segunda-feira, 22 de junho de 2009

O Banho Masculino

















Uma alternativa terapêutica para o autoconhecimento


É cada vez mais importante falar da sexualidade masculina. O homem, esse macho de pênis ereto, forte e viril, mudo e petrificado para o sexo mas opressor e repressor para a vida pode ser, dependendo da nossa vontade e daí a importância de se falar sobre a sexualidade masculina, uma figura prestes a entrar para o museu do comportamento humano.

Não é este homem o homem do século 21. As mulheres trouxeram à luz a discussão sobre a sexualidade, primeiro pela Revolução Industrial e logo no final dos anos trinta, com a II Guerra Mundial. O que é bom, o que é gostoso, o que dá prazer foi motivo de discurso durante todo o século 20. As mulheres, que adquirem sua própria identidade, trabalhando, primeiro como mão-de-obra barata nas fábricas e, com a evolução, andar par e passo com os homens, vão pondo em xeque a figura machista. E esta figura machista foi cada vez mais tomando outros contornos.

Para Gikovate, do ponto de vista propriamente sexual, o machismo se manifesta como um exibicionismo não prazeroso, numa espécie de teste onde o homem deve se mostrar macho e reiterar, a todo o momento para si e para os outros, que é competente para as relações sexuais e não é homossexual.

Só que esta figura machista faz da vida sexual um blefe, como fala Mc Carthy. Uma luta desesperada para manter a imagem da infalibilidade e do grande desempenho pelo tamanho do pênis, número de gozos, pronto a qualquer hora, em qualquer lugar. Uma verdadeira máquina de sexo. Só que um funcionamento nestes padrões é próprio das máquinas e não de pessoas.

Parece claro que este aspecto comportamental se condiciona no ensinamento que temos ainda crianças a esconder nossos sentimentos. Como diz Druck, somos treinados para ocultar nossas emoções. Meninos não choram, não se abraçam, não se beijam. São instigados a isso por uma formação familiar machista e conscientemente repressora. Entretanto, um menino que não chora, um menino que não pode externar seus sentimentos é um adulto sem afeto.

Como parte integrante desta criação cultural, além dos sentimentos escondemos nossa própria sexualidade. E isso não é de agora. Nossa tradição judaico-cristã nos empurrou por bem e por mal, no confessionário ou nas fogueiras da Inquisição, a reprimir ao máximo nossa sexualidade. Só que hoje sabemos que já no primeiro ano de vida a descoberta de sensações agradáveis com a manipulação dos genitais dá início à nossa consciência sexual. Aprendemos que nossa região genital é feia, suja e deve ser escondida, o que nos traz vergonha. A obediência aos pais trava o conhecimento do nosso próprio corpo criando um adulto que não se conhece, não se toca, que dá a mínima atenção possível a si, diminuindo consideravelmente a chance de aproveitar sua sexualidade de uma maneira completamente natural.

O homem do século 21 não se deve deixar levar pelos velhos mitos sobre o tamanho do pênis e o conseqüente prazer da parceira, ou de que o homem nunca falha ou ainda de que o álcool é um estimulante sexual. O homem do século 21 deve treinar-se para ser mais sensível como um todo e não apenas genital. O foco das sensações não é o pênis mas o corpo por inteiro, em cada pequeno centímetro de pele. Mc Carthy salienta que a maior parte da infelicidade sexual resulta das poucas experiências de aprendizado que tivemos. Produzimos com isso uma importante falta de comunicação, compreensão e sensibilidade associadas a uma tremenda culpa ou vergonha.

O propósito deste texto é poder adicionar, ao precário arsenal terapêutico que dispomos, uma alternativa para o paciente exercitar e, conseqüentemente, externar seus sentimentos, suas sensações, seu autoconhecimento através do banho.


O Culto ao Banho

O banho, desde as primeiras culturas, foi tratado com uma certa magia. As banheiras de águas mornas lembram úteros maternos. A água corrente assim como limpa as impurezas do corpo, segundo tantas religiões, limpa também as impurezas do espírito. A magia, no entanto, acontece quando colocamos este enorme órgão do sentido a funcionar, espalhado pela infinidade de poros de nossa pele. Nossa cultura transformou o banho em um ato burocrático e exclusivo para a higiene pessoal. O gasto com a água e com a luz, o compromisso próximo que se aproxima ou simplesmente um banho rápido antes de dormir. Qualquer um pode ser motivo para o homem não se tocar e, conseqüentemente, não se descobrir. Nos tocamos, é verdade. Mas para a masturbação, prazer focalizado para o mesmo pênis ereto do início deste texto.O banho que propomos é uma sessão de relaxamento, um momento de autoconhecimento, de descoberta de sensações e, também, um ato de higiene pessoal.


O Início

Um banho como sessão de relaxamento não tem uma melhor hora para acontecer. Há que se levar em conta, entretanto, que é uma atividade de relaxamento, sem hora marcada para terminar.

Música, aromas, luzes ou velas podem acompanhar a preparação. Apesar das muitas resistências que possam vir a acontecer no início do processo terapêutico, a grande maioria dos pacientes acaba cedendo ao encanto de ter todas as sensações a sua disposição, todos os órgãos do sentido em vigília criando, inclusive, alternativas, introduzindo iluminação e sons diversos.

Um exame do corpo no espelho, da pele, dos contornos, da musculatura, da estrutura da coluna ao se olhar de perfil, do cabelo, da face em especial, da barba, dos pelos do corpo, também ajuda a iniciar a preparação para o banho. Avaliar a própria pele, sinais, marcas. Ou admirá-la, seja “in natura” ou com tatuagens. Vaccari comenta da importância de associar o exame do corpo e de tudo o que contribuir para melhorar o contato da pessoa com as próprias sensações.

A observação e a palpação dos genitais é de grande importância. Os testículos são as principais glândulas sexuais masculinas, produtores de testosterona, responsáveis pelas características masculinas. Orienta-se um exame demorado, palpando a bolsa escrotal e os testículos, sentindo sua forma ovalada, envolvidos por pequenos canais que são os túbulos seminíferos. A palpação do saco escrotal pode ser de grande valia na avaliação de tumores de testículo, hérnias, varicocele e hidrocele, alterações no organismo que o próprio paciente pode identificar ainda em períodos inicias o que facilita sensivelmente o tratamento de qualquer patologia que, por desventura, venha a ocorrer.

O próximo passo é um breve alongamento. Banho masculino como relaxamento requer um alongamento prévio. O dia fastidioso de trabalho, as horas ao volante, as preocupações normais do dia a dia requerem uma preparação especial. Membros superiores, membros inferiores, dorso e cintura pélvica devem ser trabalhados, associados a uma respiração calma e profunda.


O Banho

O controle da água deve proporcionar um banho de água tépida, nem quente nem fria, adequada à pele. Também é interessante a presença e o uso do chuveirinho para direcionar pequenos jatos de água para partes do corpo acostumadas apenas com a sensação proporcionada pela água do chuveiro. Deixando a água cair sobre a cabeça e sentindo, em um primeiro momento, só a sensação que ela proporciona enquanto vai descendo pelo corpo, inicia-se o toque. Sabonete líquido pode ser derramado nas mãos e estas deslizarem pelo corpo. Recomenda-se sobretudo calma. Um banho de autoconhecimento não é nem pode ser, necessariamente, rápido.. As mãos devem passear por todo o corpo, em movimentos circulares, pelo tórax, pescoço e membros e as sensações apreendidas sem vergonha ou culpa, alternando toques leves ou mais intensos.
É importante o uso de buchas também. Naturais ou sintéticas podem determinar sensações bastante agradáveis quando aplicadas ao dorso e ao peito além de provocarem uma esfoliação higiênica da pele.

Chegamos aos genitais. Afinal, não há como fugir e é importante que o paciente entenda que, antes de qualquer coisa, é um exercício de higiene e autoconhecimento. Aproveitando as mãos ensaboadas, traciona-se de leve o prepúcio até a exposição total da glande. Com cuidado, a lavagem do pênis, e um outro exame mais detalhado da glande, em especial, pode prevenir uma série de moléstias. Convém explicitar ao paciente da importância do exame da glande, do freio, da presença de lesões e, até mesmo, de ardência miccional. O mesmo toque é direcionado ao ânus. A leve passagem do dedo pode avaliar a existência de quaisquer alterações quais sejam pequenos pólipos, mamilos hemorroidários ou fissuras anais além de desmistificar a vergonha do homem não poder tocar o seu próprio ânus.

A massagem ao couro cabeludo, com sabonete ou xampu, deve ser circular com as palmas das mãos e não só a ponta dos dedos. Vaccari adiciona, a esta alternativa de autoconhecimento aqui relatada, a massagem com o jato do chuveirinho, variando as áreas massageadas e a intensidade do jato, o curvar-se para receber massagem da água morna ao longo da coluna e o de sentar-se no chão, com as pernas cruzadas, fazendo exercício de respiração e recebendo a água sobre a cabeça.

Não será pouca a resposta sobre masturbação durante o banho. E por que não? Afinal, como qualquer exercício de autoconhecimento, o banho é um processo de autoconhecimento sexual. A vontade e o desejo de cada um. Bloquear a masturbação ou interferir nela iria em confronto a todo um processo de desmistificação da sexualidade humana.

Há, ainda, a possibilidade de fazer a barba durante o banho. Além da sensação prazerosa de poder sentir o corte do fio sem dor, a pele acaba adquirindo uma consistência mais macia. Sabões líquidos especiais ou o próprio sabonete devem ser aplicados à pele da face. Aparelhos novos ou de pouco uso são sempre recomendáveis. Em um primeiro momento, sugere-se que o paciente faça a barba com os olhos fechados e depois a corrija no espelho. Não recomendamos a utilização de espelho dentro do Box, no início do processo terapêutico. Até por que depois que o paciente adquirir um conhecimento da “geografia” de seu rosto, não precisará mais de espelho.


O Depois

Uma toalha macia deve enxugar a pele, de maneira calma e tranqüila. Após a primeira enxugada, movimentos circulares levam a toalha a todas as partes do corpo.O mesmo ritmo deve ser adotado na aplicação de um creme hidratante que mais se adecue a pele de cada paciente e a cada período do ano.

O seguimento do banho é da escolha de cada um. Não é dever do Terapeuta direcionar o horário ou a intenção do banho. Se o sono, o trabalho, o passeio ou o amor, não interessa. Mas que seja de uma maneira muito mais aprazível e prazerosa, conseqüentemente.

Há que ressaltar que como qualquer técnica terapêutica, desistências, bloqueios, culpas vão acontecer e é responsabilidade do Terapeuta achar a melhor maneira de conduzir o processo dando tranqüilidade e conforto a seu paciente.


Referências Bibliográficas

GICOVATE, F. O Instinto Sexual. São Paulo, MG Ed. Ass., 1985.
DRUCK, K. Os Segredos dos Homens. São Paulo, Saraiva, 1989.
VACCARI, V.L. Hora do banho: uma forma de recuperação das sensações corporais na psicoterapia. In Aprimorando a Saúde Sexual, São Paulo, Summus, 2001.

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